domingo, 12 de dezembro de 2010

********************* Largo ***********************

Hoje eu não vou tocar as teclas desordenadamente
Como se não soubesse o que pretendo.
Escreverei muito de vagar,
Deixarei que as palavras sintam os sulcos ásperos
Das digitais dos meus dedos
E, voluntariamente, se entreguem,
Se deixem perder (achar) neste deserto do papel.
Sim, um largo se estende infinitamente.
Arremeço-me na areia
E cada passo uma palavra
Versos que me movem para uma fuga.
Às vezes, por séculos mesmo, eu não me movo.

Eu não queria ser mais os vossos olhos
Queria unir as pálpebras e me juntar a vós nesta multidão.
Ando por aí, invisível, porém, os rostos sem nomes e de expressões tristes
Me inquieta tremendamente.

O senhor que pede esmolas, o pede com olhos tristes
É como se qualquer valor não me aliviasse esta dor,
Da culpa por uma sociedade injusta que,
Se eu não construí, velo por ela.

Queria me arremessar na multidão
Ficar à margem.
Dar um pouco de dignidade em versos por um pão mofado;
Ser como os que me provocam pavor
Por terem, tão expressivos, semblantes.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Herança

Estou cansado, tenho que parar.
Ah, se soubesses o peso que me faz esta caneta.
O papel chora e sangra,
Lágrimas e sangue que me comoveram.
Hoje não, nem um vestígio de pena tenho,
E que se apresente com cicatrizes,
Só o verei como um papel que a brancura perdeu.
Amarrotado, o fim é um só.


Eu que não sou um ser especial,
Apresentei a reescrever o destino.
Eu o salvo, eu o eternizo.
E o sangue e lágrimas serão vistos e sentidos.
Eu não sou eterno, meu fim foi pré-determinado,
Mas pobre que sou tenho só o nome.
Meu nome amarrotado neste papel eterno,
Minhas lágrimas,
Meu sangue...